Acidentes com endereço certo

28/06/2011 14:43

Por Jéssica Ramos

Quarenta e dois. Esse é o número de mortos em quatro dias de feriado prolongado só nas estradas mineiras segundo a Polícia Rodoviária Federal (PRF). O mais engraçado é que os matemáticos dos órgãos responsáveis pela segurança e prevenção de acidentes do trânsito só conseguem pensar em uma coisa: redução. Isso porque só se analisa o percentual (ainda que mínimo) que foi reduzido de mortos no mesmo feriado do ano passado em relação a 2011.

 

Os números se forem contabilizados de forma indiscriminada e imparcial, podem ser vistos sob outra perspectiva. Só no carnaval desse ano, por exemplo, 48% dos 144 acidentes fatais, ocorreram exatamente na mesma área onde o Dnit (órgão de transporte do governo Dilma, do PT) já havia destacado como área de risco. Esses lugares somam juntos cinco anos e meio, no mínimo, 3.917 acidentes, 1.441 com feridos, 127 com mortos. A matemática é bem simples. De 98% dos pontos onde 213 pessoas morreram no último carnaval (com recorde de vítimas em nove anos) metade das colisões se deu em locais previsíveis.

 

Se a maioria, ou no mínimo metade dos grandes acidentes fatais ocorrem quase sempre nos mesmos trechos, é sinal de que alguma coisa está errada e o problema não está só no motorista irresponsável e nem o mérito todo assim na redução na semana santa. Mas o problema está mesmo é em trechos rodoviários que já são inutilmente considerados como áreas de risco. Esses lugares já viraram até lista do governo devido à alta incidência de casos como batidas ou atropelamentos nos últimos cinco anos.

 

O Dnit alega a matemática da melhoria de avaliação de rodovias em pesquisas. Diz que, desde 2006, foram investidos R$ 600 milhões em sinalização e prevê mais R$ 700 milhões nos próximos dois anos. Mas vamos falar de outra matemática mais uma vez: de um total de 2,6 mil radares previstos para serem colocados nas rodovias brasileiras, apenas 27 já foram instalados em Minas Gerais. Em dados percentuais isso significa 1%.

 

Quando questionado sobre o porquê de tais locais, que já tem endereço certo e são de conhecimento público, não passarem por melhorias na sinalização e até mesmo obras imediatas, o coordenador-geral de operações rodoviárias do Dnit José Claudio Varejão disse que o problema está no tempo que leva para serem realizados projetos e licitações. Demora mesmo. Mas o que demora muito mais e não tem conserto é a dor e o luto de 42 famílias. Licitações são burocráticas, sim. Mas funerais também. E não podem esperar.