Ser jornalista vale a pena

22/06/2011 14:37

Por Jéssica Ramos

 

Jornalista hoje em dia é o que não falta. Eles estão por toda parte. E não é necessário grande esforço pra se tornar mais um. Isso porque não é preciso fazer faculdade, ou mesmo estudar política e sociologia. Basta apenas conseguir um espaço na mídia e contar uma boa história. Pra isso só é necessário um pouco de curiosidade, uma base partidária e uma pitada de sarcasmo. E assim promover um espetáculo. Dependendo do cartaz a platéia é fiel e a trama um tanto interessante.

 

A palavra jornalista virou quase um genérico para as palavras: paparazzi, piadista, humorista, apresentador, fofoqueiro e algumas outras vertentes do ramo. Que beleza de trabalho! São os chamados “formadores de opinião”, mas responsáveis por narrar histórias nuas e cruas e desprovidas da tal opinião. Fama vira critério de noticiabilidade, jogador de futebol vira psicopata, campo de futebol vira teatro, modelo vira garota de programa e vice-versa.

 

E a ética onde fica? Ah sim! A ética como principal característica dos tablóides. O compromisso com o interesse público também é importantíssimo, afinal de contas não se pode viver sem saber quantas facadas a garota levou na noite de ontem ou por quantas horas ela ficou agonizando. Ou será em quantas partes ela teve o corpo esquartejado? Onde foi enterrado? Ou quais as falas fizeram parte de suas últimas horas de vida? Na trama tem vilão com história triste de mocinho e vítima com história de vilã sem pudor. Vítima e vilão sempre existem, são escolhidos minuciosamente.

 

O artista, quer dizer, jornalista faz do seu texto um incrível palco. O espetáculo é bonito, atraente, tem divórcio, exame de DNA e até capítulos imperdíveis. Tem suspense, psicopata, seqüestro e até remontagem de cena do crime. As cortinas se abrem, a emoção é constante e a narrativa é brilhante, afinal os personagens são mudos, só quem fala é o incrível e imparcial narrador. Os personagens são estudados, rotulados, analisados, e criados pelo roteirista, digo psicólogo, digo jornalista.

 

O espetáculo que há 60 anos custava uma reputação e uma credibilidade, hoje custa apenas um aplauso. Tudo bem. Quando o espetáculo é importante o silêncio custa mais que um aplauso.  A verdade mesmo é que o silêncio tem custado alto, às vezes mais que o salário de duzentos meses trabalhados. Tudo bem. Tudo vale a pena. Afinal é melhor subir na vida, passar as noites bem dormidas, do que ficar na poltrona com nariz de palhaço.